O documento oficial O Futuro que Queremos é o principal assunto na boca daqueles que comentam – na maioria das vezes, de forma insatisfeita – a respeito do desfecho da Rio+20. Na tentativa de chamar a atenção para outros resultados da Conferência, o chinês Sha Zukang, secretário-geral da Rio+20, convocou na sexta-feira coletiva de imprensa para informar a respeito doscompromissos que foram assinados por empresas, instituições financeiras, universidades e governos locais durante o evento da ONU.
“Acordamos 692 compromissos durante a Conferência que, estima-se, mobilizarão US$ 513 bilhões em prol da causa dodesenvolvimento sustentável. Este é um legado importantíssimo da Rio+20. Há grandes expectativas sobre as ações dos governos, mas eles não podem fazer o trabalho sozinhos. É preciso apoio e envolvimento do setor privado e da sociedade civil”, disse Zukang, que falou com a imprensa ao lado de Brice Lalonde, coordenador executivo da Rio+20.
Entre os compromissos enaltecidos pelos participantes da coletiva, estão:
– os 200 acordos resultantes do Fórum de Sustentabilidade Corporativa da Rio+20, que foram entregues em um documento para Ban Ki-Moon (saiba mais em: Ban Ki-moon recebe documento de líderes empresariais com compromissos ao Desenvolvimento Sustentável) e
– um acordo que prevê que todas as instituições de nível superior do Brasil terão que incluir o tema da sustentabilidade em seus currículos.
“A mudança dos currículos escolares, desde a educação básica, é uma das ferramentas mais simples, baratas e imediatas que podemos usar em prol do desenvolvimento sustentável. Será um enorme avanço se os demais países se inspirarem no compromisso assumido pelas instituições de ensino brasileiras”, afirmou Antonio Freitas, da Fundação Getúlio Vargas.
A intenção da coletiva era tirar o foco do documento final resultante da Rio+20, mas o esforço da ONU foi em vão. O assunto foi abordado durante o evento – e por um dos painelistas, o presidente da Costa Rica, José María Figueres. “As ONGs, empresas e demais setores da sociedade civil desempenharam um bonito papel na Rio+20, mas os governos falharam. ‘O Futuro que Queremos’ é o título adequado para o documento resultante da Conferência, mas seu conteúdo não está adequado. O futuro que queremos é construtivo”, disse Figueres, que lamentou: “Não temos um planeta B para desdenhar do que vivemos hoje, como estamos fazendo”.
O secretário-geral da Conferência, Sha Zukang, se defendeu: “Sei que muitos países não estão felizes com o resultado, mas meu trabalho é fazer com que todos sejam iguais e não felizes”, disse. Lalonde fez coro: “O resultado da Rio+20 pode não parecer tão espetacular quanto o da Rio92, mas é com certeza mais sério e realista. Afinal, muito do que foi acordado em 92 não foi implementado até hoje”.
Antes de se retirar da coletiva, Zukang se despediu pedindo comprometimento daqueles que assinaram os compromissos. “Não podemos esquecer que o trabalho árduo começa agora. Prometer é fácil, mas manter a promessa exige esforço. O que diferencia um compromisso de uma boa intenção é a responsabilidade. Espero que estes acordos virem histórias de sucesso nos próximos anos”.
Fonte : Exame